sexta-feira, 4 de setembro de 2009

35) Ô (Lancôme)




MAIS DE 30 ANOS DE FRESCURA




Após a sua criaçao, em 1969, o perfume Ô de Lancôme passou a ocupar um lugar à parte. Começando logo pela descoberta simplicíssima do nome, que simboliza o acordo perfeito entre o contentor e o conteúdo. Isto porque se trata verdadeiramente de uma "água"! Algo que apenas o "ô" com acento circunflexo da Lancôme poderia sintetizar de forma tao bonita: hoje em dia, o Ô de Lancôme cresceu levemente, tornou-se oval e inscreve-se mais largamente no estojo e no frasco do que por altura do seu lançamento. Porém, se o traje é novo, a cabeça, o coraçao e o fundo permanecem intactos.

Ô deve a sua surpreendente frescura a uma fórmula mágica. O começo é hespérídeo: a bergamota, o limao e a tangerina unem-se à laranja. Em seguida, impoe-se um coraçao vegetal, no qual vibram em uníssono o jasmim, o majerico, o coentro e o alecrim, com uma pitada de madressilva. Por fim, insinua-se o fundo, entre musgo de carvalho, sândalo, civete e vetiver. Designado naturalmente como um hesperídeo, floral, chypré, Ô marca principalmente uma data importante na história do perfume, pois, pela primeira vez, conseguiu-se fixar, durante a fabricaçao, a nota hesperídea, normalemente bastante volátil. Deriva disso a forte impressao de frescura que se impoe...há mais de trinta anos e que fez de Ô , no ano 2000, a primeira eau fraîche feminina do mundo. Fiel à luz amarela e verde de que se reveste desde sempre, embora renovada na apresentaçao do frasco luminoso e cristalino, do qual o verde-escuro desapareceu para dar o lugar a um verde mais fresco e leve, Ô dura e perdura perseverantemente.


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

34) Jean- Louis Scherrer (Jean-Louis Scherrer)



UM GRANDE CLÁSSICO MODERNO

Foi ao trabalhar com Christian Dior, pouco antes do falecimento deste, que Jean-Louis Scherrer descobriu tudo o que a alta-costura comporta de luxo, de técnica e de criaçao. No seguimento de uma viagem ao Japao de uma volta ao mundo, que lhe permitiram verificar a influência da moda européia, instalou-se em Paris, em 1962, como criador de moda, passando a contar como clientes, logo desde a primeira coleçao, com as personalidades certas que fazem a reputaçao de uma casa. Após se ter estabelecido na Avenue Montaigne, mostrou-se fielmente ligado a uma imagem de marca, a do artesanato francês mais nobre. Depois de ter assinado um acordo com Harriet Hubbard Ayer para lançar um perfume que desejava que fosse de grande tradiçao e de grande qualidade, Jean-Louis Scherrer apresentou-o oficialmente nos Jardins du Cercle, no mês de Julho de 1979. A exemplo da moda lançada pelo seu criador - do qual se disse que dava às mulheres "a segurança da elegância contemporânea" -, Jean-Louis Scherrer é um perfume de alta-costura bastante original, um grande clássico moderno, apresentado num suntuoso frasco hexagonal facetado, desenhado pelo artista Serge Mansau. O anúncio na imprensa deste primeiro perfume feminino de Jean-Louis Scherrer dava à fragrância a imagem da grande "classe" do gesto milenar feito pela mulher, vestida, maquiada, com uma safira no dedo, tocando no pescoço com a tampa de cristal tirada do frasco para depor uma gota sobre a pele. De uma riqueza insolente e persistente, esta fragrância - cabeça floral e corpo animal - deriva da associaçao subtil de cento e cinquenta componentes, entre as quais se encontra a tangerina de Sicília, o gálbano do Ira, a íris de Florença e a rosa de Bulgária, o musgo da ex-Jugoslávia e o sândalo de Maizuro, o patchuli das Seychelles, sem esquecer o âmbar selvagem e sensual.




Como um vestido impecavelmente cortado, o perfume nao trai a mulher que o usa.












J.L. Scherrer (à esquerda), um criador que inaugurou um estilo feito de sobriedade e elegância, como se pode ver na linha do frasco do seu perfume (acima).

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

33) L'eau par Kenzo (Kenzo)


DE UMA SIMPLICIDADE ABSOLUTA

O primeiro japonês a instalar-se em Paris, Kenzo conquistou rapidamente a cidade, no início da década de 70 do século transacto, com as suas cores alegres, o seu folclore e as suas misturas de estilos e de motivos. Embora passe pelo mais europeu dos japoneses que lhe seguiram o exemplo, nao será por isso que abandonou as suas raízes. Se nao demorou muito a assinar perfumes, embaixadores do seu estilo com a missao de o tornarem ainda mais conhecido, fê-lo também como uma maneira de indeireta de nao se desligar do seu país natal. Depois de King Kong e Jungle, para os quais Serge Mansau criou frascos que mais pareciam pedras,folhas ou bambus, vimos surgir, em 1996, uma novidade que marcou o seu tempo, L'eau par Kenzo, que resume todo o seu universo. "O mundo é belo", é essa a sua divisa. Para exprimir a beleza e a sinceridade, a felicidade e a verdade, a ternura e a liberdade, nada lhe pareceu mais simbólico do que a água, a mae da Natureza, primeiro tesouro do planeta, soberana benfazeja, vitalidade imaterial. Kenzo imaginou uma "água" nova. Enquanto as águas tradicionais possuíam todas uma dominante hesperídea, L'eau par Kenzo inscreve-se num novo universo, floral-aquático. "A tudo o que é clássico junto o inesperado", diz Kenzo. Na verdade, os vinte e um componentes desta Eau constituem uma harmonia simples e complexa, que cria um tom novo. Em notas de cabeça, a cintilaçao vibrante da madeira de cana, do verde do lilás, da hortela orvalhada e da tangerina. Como notas de coraçao, uma cascata florida: graos-do-paraíso, jasmim-do-rio, nenúfar, amarílis e pêssego branco. Como notas de fundo, um "lago misterioso" onde persistem o cedro azul, o almíscar e a baunilha. Por fim, como "a água nao tem cor", Kenzo quis para a sua água límpida o brilho transparente de uma gota de vidro de uma simplicidade absoluta, mudada posteriormente a forma dos frascos femenino e masculino a dois movimentos da água complementando entre si quando colocados juntos.

32)Joy (Jean Patou)

UMA ACTUALIDADE MAIS QUE PERFEITA

" O perfume mais caro do mundo, propaganda sem réplica, da autoria de Elsa Maxwell, a mexeriqueira de Hollywood ", que acompanhou Jean Patou a Grasse em busca de uma nova fragrância. Estávamos em 1930. O colapso da Bolsa de Nova Iorque lançara na miséria famílias inteiras e arruinara numerosos clientes americanos, habituados aos saloes dos costureiros-perfumistas parisienses. Com efeito, seria para responder a estas tragédias que Jean Patou decidiu umaginar um antídoto perfumado para a depressao geral.
Em Grasse, ficou preso aos encantos de um líquido fabuloso,composto pelas mais preciosas essências de rosa e de jasmim. O respectivo preço de revenda era absolutamente exorbitante, mas seria justamente este argumento justificado que o levou a tomar a decisao. Para tornar o perfume mais sumptuoso ainda, Jean Patou pediu a Henri Alméras, o criador, que duplicasse a concentraçao da fragrância. Símbolo do luxo e do requinte, Joy (batizado, segundo se diz, com o nome de uma rica cliente de Patou), originalmente, foi colocado num frasco de um classicismo perfeito, com uma tampa bem larga e cantos biselados. Dois anos mais tarde, em 1932, num frasco preto com tampa vermelha, inspirados nas caixas para tabaco chinesas, de forma arredondada, até que, em 1975 - o líquido continuava a ser uma atualidade mais que perfeita - Baccarat concebeu um frasco de cristal como um vestido de crinolina. O capitoso bouquet que encerra era de uma grande audácia para a época, pois as duas grandes flores da perfumaria eterna encontravam-se reunidas, quando, normalmente, costumavam ser valorizadas separadamente.




Para Joy, Jean Patou mandou realizar este frasco precioso num cristal Baccarat de uma rara pureza (continua à venda).

domingo, 2 de agosto de 2009

31) Soir de Paris (Bourjois)




UM PASSAPORTE PARA A CELEBRIDADE


Entre todos os perfumes que, em virtude do seu nome, prestam homenagem à capital francesa, Soir de Paris é, sem sombra de dúvida, o mais original e aquele cuja história é a mais extraordinária e que conheceu o êxito mais evidente. Foi graças aos produtos de maquiagem para atores que Alexandre Napoléon Bourjois fundou, em 1863, a casa que, hoje em dia, continua a usar o mesmo nome e que construiu, subsequentemente, uma fama internacional baseada na sua gama de pós compactos e de maquiagem pastel. Ora, por volta de 1925, Bourjois, que abrira uma sucursal em Nova Iorque, acalentava a esperança de conquistar o continente americano. Verificando que a concorrência era forte no campo da maquiagem, a casa decidiu-se por outra tática: mudar de especialidade. Conhecida pelos seus pós e maquiagens, decidiu lançar um perfume, dado que, neste domínio, a produçao americana era por assim dizer inexistente. Foi assim tomada a decisao de proporcionar às americanas um perfume tipicamente francês, com um nome poético, evocador da festa, um perfume que as fizesse sonhar: seria pois Evening in Paris (o perfume apenas adotaria o nome francês, Soir de Paris, quando foi lançado na França).
O perfume foi lançado em 1929 e o êxito mundial foi imediato. Será preciso referir que os melhores artistas da época rodearam dos maiores cuidadoso nascimento de Soir de Paris. O criador do líquido foi Ernest Beaux, o celebérrimo pai do Nº5 de Chanel. Simultaneamente floral e condimentado, Soir de Paris introduziu de imediato Bourjois no círculo restrito dos grandes perfumistas. É um bouquet de cravo, de jasmim, de lírio e de rosa de Maio, apoiado por alguns toques de vetiver e por uma nota de sândalo: a aliança inesperada do cravo, com um perfume quente e provocador, com a madeira preciosa de sândalo constituiu um verdadeiro achado. Para realçar esta harmonia sutil de aromas, Bourjois mandou fabricar uma pequena jóia pelos vidreiros Brosse: frasco Art Déco de um azul-cobalto verdadeiramente suntuoso e revolucionário, pois a cor azul era entao inédita na perfumaria. Pelo seu lado, o ilustrador Jean Helleu desenhou uma etiqueta plena de poesia, semeada de estrelas e com uma lua em quarto crescente, um convite ao divertimento numa noite tremeluzente de luzes. Primeiro perfume que se dirigiu mais diretamente às classes médias, numa vontade de tornar acessível a todas as mulheres a qualidade de um grande perfume. Soir de Paris conheceu o triunfo ao beneficiar de meios de lançamento consideráveis para a época. Um frasco azul, uma etiqueta prateada, um nome com uma sonoridade única: a partir desta lenda, Bourjois quis reinterpretar Soir de Paris à luz da década de 90 do século passado. Seria François Demachy quem reinventaria o espírito: se bem que as bases de construçao tenham permanecido fiéis às de 1929, Soir de Paris 1991 encontrou um novo equilíbrio nas suas notas floridas, pontuadas por notas frutadas e amadeiradas sobre um fundo abaunilhado, para lhe conferir o caráter resinoso dos perfumes intemporais.

30) Loulou (Cacharel)
















DE CANDURA E DE MISTÉRIO

Depois do golpe de gênio de Anaïs Anaïs , em 1978, pretender reiterar um segundo golpe de gênio poderia parecer loucura. Ora, verificou-se que Loulou, laçado em 1978, venceu o desafio de se impôr entre os florais orientais, mais sensuais, mais misteriosos. O seu bilhete de identidade fez aparecer, além do jasmim e da flor de laranjeira, o heliotrópio, a fava-tonca e o almíscar, essa essência envolvente que tem o nome de ilangue-ilangue, assim como os aromas exóticos, suaves e acariciadores, da baunilha e a flor de tiaré. O langue-ilangue, flor amarela-clara, de pétalas compridas e finas, hoje em dia encontra-se praticamente por todo o lado, cúmplice permanente dos perfumes florais ou ambarinos.
Em Loulou, confere-lhe um estremecimento mais sensual. A baunilha, aroma "paradisíaco" dos sonhos baudelairianos, confere igualmente uma calidez profunda ao perfume, uma abertura suave que percebemos sem hesitar.

Sarah Moon, fitógrafa inglesa encarregada das campanhas publicitárias da Cacharel, irá, no que se refere a Loulou, além da ternura evanescente de Anaïs Anaïs ao escolher uma silhueta aureolada de tons azulados de mulher mais audaciosa, mais elegantemente palpitante, feita de candura e de mistério, em volta da qual se murmuram confidências. Mais uma vez, a osmose é total entre o perfume e a imagem deste. Nao terá sido por acaso que foi escolhido o nome de Loulou: nao evocará de imediato o perfil lendário, mas tao moderno, da atriz Louise Brooks e a sua personagem simultaneamente voluntariosa e frágil?

29) CK One (Calvin Klein)

A PRIMEIRA FRAGRÂNCIA ANDRÓGINA

Tornado, tal como Ralph Lauren (igualmente originário do Bronx), um dos gigantes do marketing "moda" à escala mundial, Calvin Klien propoe mais uma concepçao global da vida moderna do que um estilo ou uma moda. "O ponto-chave da estética segundo Calvin Klein é a sexualidade. Os anúncios publicitários para a roupa interior, as calças de ganga, os perfumes do estilista transpoem a obsessao do corpo da cultura gay para a consciência heterossexual, contribuindo ao mesmo tempo de maneira considerável para amenizar a mentalidade americana fundamentalmente puritana no fim do milênio", precisa Charlotte Seeling em La Mode au siècle des créateurs. Em finais do século XX, a tendência para o unissexo era evidente. Porém, quando CK One foi lançado, em 1998, tornou-se, no entanto, uma espécie de aposta. Exceptuando o caso particular da água-de-colônia, até entao os perfumes exploravam os cânones exteriores, bem definidos, da feminilidade e da virilidade: entre Moustache e Shalimar a escolha era evidente. Todavia, CK One, primeira fragrância andrógina, viria provocar um verdadeiro maremoto. O minimalismo do condicionamento e a ambiguidade voluntária dos homens/mulheres jovens escolhidos para a campanha publicitária revelaram-se frutuosos. CK One situa-se no grupo de vanguarda dos perfumes mais vendidos no mundo, eleito pelos homens, pelas mulheres, mas sobretudo pelos jovens. Acabando por ser catalogado como um nao-perfume - "uma simples água-de-colônia, salpicada de água do mar, mixta e asseada, com um toque de abacaxi", segundo Maïté Turonnet - CK One suscitou inúmeras imitaçoes e continua a ser o primeiro perfume a afastar-se voluntariamente do conceito de feminilidade.

28) Ma griffe (Carven)


UMA HARMONIA PRECIOSA E CONQUISTADORA

"Tudo aquilo de que gosto é verde", disse Melle. Carven, igualmente grande apreciadora de objetos de arte.

Seria em 1945, num apartamento cujas janelas dao para a rotunda dos Champs-Elysées, que Melle Carven abriu a sua casa de alta-costura, ela que até esse momento jamais trabalhara no mundo da moda. Porém, sentia-se animada por uma ambiçao muito original: vestir a mulheres de pequena estatura, que, tal como ela, nao tivessem mais de 1.55 m. Desenharia igualmente inúmeros vestidos de noiva. No livro que Dominique Paulvé dedicou à Carven, ficamos a saber, por exemplo, que concebeu o de Anémone Giscard d'Estaing inspirando-se na admiraçao que a jovem tinha pela princesa de Clèves e pelo estilo dos vestidos do século XVI. Caracterizado por uma elegante frescura e por uma alegria juvenil, o seu estilo impôs-se rapidamente. Seduziu parisienses tao diferentes como Nicole Courcel, Ludmilla Tcherina, Maria-José Nat ou Véra Clouzot. Todavia, a marca Carven foi também o famoso tecido de riscas verdes-claras e brancas, jovem e dinâmico, que ficará para sempre associado à imagem da casa. O vestido que terá este nome, executado neste tecido luxuoso, sem mangas, com um busto estreito, dotado de uma saia ampla e realçado por nés na cintura, conheceria o triunfo. Mal se instalara, Melle Carvem conheceu um homem de negócios que lhe propôs criar um perfume. Foi sem hesitar que teve a idéia de Ma griffe, que se tornou um dos grandes clássicos da perfumaria parisiense, sempre apreciado desde que foi criado devido ao seu poder de seduçao eternamente jovem. No cenário ainda sinistro da França do pós-guerra, eis que apareciam nas montras das perfumarias deslumbrantes decoraçoes às riscas verdes e brancas, que apresetavam um perfume chipre floral, um desses perfumes dos quais Charles Baudelaire dizia que eram "frescos como a pele das crianças, doces como os violoncelos, verdes como as pradarias..."

Uma fragrância delicada e tônica, inspirada nas flores favoritas de Carven: gardênias, jasmins e rosas.

Embora esta encenaçao tivesse contribuído largamente para o êxito de
Ma griffe, este deveu-se ao fato de a fragrância imaginada por Melle Carven possuir uma verdadeira originalidade. Ela própria definiu a sua criaçao como "um perfume de exterior que se deve esquecer de ser capitoso". Tal significa uma aliança conquistadora e preciosa feita simultaneamente de jasmim e de neroli, de musgo de carvalho, de almíscar e de vetiver. Em Souvenir de parfums, Véronique Blamont conta a este propósito o seguinte episódio: o nome de Ma griffe estava já registrado pelas casas Guerlain e Le Chat, mas tanto uma como outra, após serem consultadas, decidiram que a partir daquele momento a Carven podeeria utilizar este nome. O dinamismo de Melle Carven continuaria a manifestar-se nos mais variados domínios. Nao apenas no da moda, pois, no decurso das suas numerosas viagens tinha o hábito de trazer continuamente novas idéias: tal como o do vestido "sambas", que idealizou no Brasil, feito de um plissado sobreposto que conferia ao vestido um movimento espetacular; tal também como a linha "ânfora", que lhe foi inspirada pela civilizaçao egípcia; ou ainda a paleta de cores brilhantes que marcou a sua coleçao depois de uma viagem pelo México. Todavia, a casa Carven lançou-se igualmente na fabricaçao de malhas, de gravatas, de lenços e de jóias. Sempre com "griffe" reconhecível entre todas as outras, no sentido literal, o pequeno pedaço de tecido costurado às peças, com o nome do criador, mas principalmente um espírito particular de juventude, de arrebatamento e de vivacidade colorida.

sábado, 1 de agosto de 2009

27) GRAND AMOUR (Annick Goutal)

UM PERFUME QUE É COMO UMA CARÍCIA


Após uma carreira de manequim em Inglaterra, Annick Goutal entrou quase que por acaso no reino dos perfumes. Quando ajudava uma amiga a montar um negócio de produtos de beleza, encontrando-se certo dia em Grasse, capital francesa da perfumaria, iniciou-se entao na arte das fragrâncias. Foi nesta cidade que descobriu o dom extraordinário que possuía: o nariz! Soube entao que o seu caminho já estava traçado: iria criar perfumes com o seu próprio nome. Perfumes que, todos, iriam guardar a marca da sua personalidade, mas testemunhar também a qualidade rara que faz as grandes fragrâncias. Uma qualidade perfeitamente definida pelo criador Edmond Roudnitska; com efeito, o que, segundo ele, distingue um grande perfume de outro resume-se a seis características: o caráter, o vigor, o poder difusor, a delicadeza, o volume e a persistência. Estas carcterísticas encontram-se todas nas criaçoes de Annick Goutal.


Lançado em 1996, Grand Amour revelou-se imediantamente um êxito extraordinário. Annick Goutal sabia melhor do que ninguém como evocar a seduçao: "É um perfume como uma carícia, que desperta o desejo de viver. É terno e sensual, com um fundo quase sexual. Eis um perfume da mais sublime alta-costura. Criei-o para que se ajustasse perfeitamente ao meu coraçao e à minha pele." Aliás, quem poderá resistir a semelhante nome, inscrito num frasco de um vermelho escarlate do qual emana um aroma que nos envolve numa aura de seduçao? Um aroma em que se encontram misturados o lírio, o jacinto e o madressilva, o âmbar e a baunilha,a mirra e o almíscar.

Flores, âmbar e almíscar, eis o acordo de base de Grand Amour, que a sua criadora qualifica de "perfume de uma paixao serena".

26) Vent Vert (Balmain)


Mal Pierre Balmain acabara de abrir a sua casa de alta-costura, precisamente no fim da guerra, lançou os primeiros perfumes com uma segurança de gosto e uma audácia notáveis. Em 1947, Vent Vert surgiu como um puro golpe de gênio. Ainda hoje continua a ser universalmente comhecido. Isto porque inaugurou, à semelhança do Chypre de Coty ou ao Nº5 de Chanel noutras direcçoes, uma nova linha olfativa: a dos florais verdes. O mercado dos perfumes era entao dominado, prioritariamente, por aromas florais em que dominavam a rosa, o jasmim e outras flores brancas. Todavia, a audaciosa Germaine Cellier, a quem Balmain confiou o cuidado de criar um perfume verde, propositadamente insensato, inscreve-se às mil maravilhas nesta corrente de liberdade e emancipaçao: raro nariz feminino da profissao, mistura os aromas sem preconceitos e ousa fazer associaçoes inesperadas. Colette disse que Vent Vert, com o seu caráter de "vegetal esmagado na mao", fora concebido para agradar "às mulheres endiabradas de hoje em dia". Com efeito, Germaine Cellier criou um líquido à base de gálbano, uma essência originária do Ira, bastante difícil de manejar por ser bastante adstringente. Produzido por plantas herbáceas das regioes desérticas, o gálbano forma concreçoes bastante odoríferas, com uma nota "animalesca", simultaneamente verde e amadeirada. As notas de cabeça de Vent Vert reúnem pois limao, flor de laranjeira e a folha de violeta, ao passo que o coraçao é deliberadamente verde: a parte do gálbano, Germaine Cellier colocou majericao e gerânio, com um toque de jasmim. Por fim, o fundo reencontra uma certa sensualidade com um rastro de sândalo e de lìrio. Retocado em 1990, para adquirir uma maior tenacidade, Vent Vert é um dos perfumes franceses mais originais.


Relicário para o elixir verde, o frasco com um insolente laço verde no bocal dispoe, hoje em dia, de uma tampa que, simbolicamente, se dobra com o vento; o perfume nada perdeu da sua modernidade.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

25) Ysatis (Givenchy)


O GRANDE PERFUME DA NOITE

Um porte inegavelmente aristocrático, eis a marca, mais perfeccionista que revolucionária, deixada por Hubert de Givenchy num mundo en que ele entendeu constituir-se o guardiao de um certo classicismo. "É bastante raro nao associar o perfume à alta-costura", dizia o criador, acrescentando depois que "Ysatis é uma mulher voluptuosa, com encanto, uma silhueta vestida de preto estrito, iluminada por jóias sumptuosas. Mas é também a discriçao e o porte que fazem com que a elegância nem sempre esteja associada ao luxo, mas que se revele por intermédio da personalidade, da forma de evoluir e de se comportar". A nota deste perfume foi trabalhada de uma maneira particular: a cabeça, o coraçao e o fundo estao intimamente ligados para jogarem juntos sobre o mesmo acorde floral, oriental, levemente animalizado. A novidade situa-se no acento exótico conferido pela essência de "bay-rum" de ressonâncias simultanemente frutadas e especiarias. Como Hubert Givenchy nao apreciava as fragrâncias estonteantes, Ysatis é uma presença cuja calidez e rastro jamais incomodam. Deixa-se adivinhar sem se impor. "Para Ysatis, parti do conceito de Hubert de Givenchy de uma mulher ao mesmo tempo ativa e sedutora, assumindo com encanto a sua vida profissional, privada, mundana...", diz Pierre Dinan, o desenhador do frasco. É isso que representa o frasco-esculturs de vidro grosso, perto do cristal, cujas mil facetas sao uma piscadela de olho a essa mulher múltipla, enquanto a tampa assimétrica lhe confere uma nora original. "Ysatis foi concebido para surpreender e intrigar pela magia de um rastro que nos faz voltar para trás e dizer: "Como esta mulher cheira bem!...", conclui Hubert de Givenchy.





Ysatis coloca-se de imediato no domínio da sumptuosidade, do mistério e do fascínio.

24) Trussardi (Trussardi)


UMA DECISAO RESOLUTAMENTE MODERNA

Foi o couro que constituiu a primeira atividade de Trussardi, célebre família de luveiros italianos, cuja primeira oficina foi aberta no início do século XX e que rapidamente adquiriu fama internacional. Nicola Trussardi começou por criar malas de mao e de viagem, pequena marroquinaria e cintos, antes de se encontrar noutros domínios de expressao no campo do design contemporâneo. Tendo escolhido a lebre como emblema para assinar todas as suas realizaçoes, lançou-se igualmente no prêt-a-porter e na perfumeria, concebendo ainda interiores de automóveis e de avioes de linha, mobiliário e mesmo guarda-roupa para bailado-
Para o seu perfume feminino, batizado simplesmente com o seu próprio patronímico - como o fazem frequentemente os criadores italianos, a exemplo de Armani e Azarro, de Gucci ou de Missoni -, Nicola Trussardi imaginou um frasco sóbrio e achatado, revestido de um material branco, a imitar pele de lagarto. O medalhao de couro, com a efigie de uma lebre, destaca-se perfeitamente ao centro: a pureza funcional deste frasco resolutamente moderno entra em ruptura flagrante com a tradiçao dos frascos de vidro ou de cristal talhado, sobretudo no que respeita aos perfumes femininos.O estilo de Trussardi é frequentemente é marcado por uma tecnicidade vanguardista.
Para a mulher, que imagina activa, segura de si mesma, sem deixar de ser bastante feminina - estamos em meados da década de 80 - Trussardi idealizou um perfume chypré, floral composto de jasmim e de mimosa de Grasse, de tangerina de Sicília, de laranja de Calábria e de musgo de carvalho da ex-Jugoslávia; o âmbar, o vetiver e o patchulí conferem-lhe a profundidade e a tenacidade, enquanto a tuberosa e as rosas lhe dao asas.
As notas de cabeça partem da riqueza de um bouquet floral, preservado pela frescura profunda do musgo de carvalho, sendo o coraçao deliberadamente chypré, enquanto o fundo amadeirado vem impor uma soberba esteira de sândalo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

23) Ho Hang (Balenciaga)

O PERFUME DA HARMONIA

Vetiver e cedro da Virgínia, bergamota e sândalo, coentro e noz-moscada: a composiçao deste "perfume para homem", lançado em 1971 sob a marca do grande costureiro espanhol, classifica-o sem hesitaçoes na categoria dos amadeirados com especiarias. Esta família típica agrupa essencialmente as notas masculinas, retiradas das essências de madeira exóticas, realçadas de toques hisperídeos e de pormenores mais calorosos, conferidos pelas especiarias. Depois de Brut e de Eau Sauvage, em 1966, o mercado de perfumes para homem tornou-se, em poucos anos, extraordinariamente vivo e diversificado, podendo mesmo uma fragrância servir para alguém se valorizar socialemente. A imagem da virilidade constituía sempre um fator capital (Balafre, Drakkar ou Safari falam de homens musculosos e bronzeados, de esportes violentos e de grandes espaços), mas o mercado evoluiu rapidamente para uma gama mais matizada: um homem era também (nunca deixa de ser) elegância e distinçao, requinte e circunspecçao, o que significa um regresso a valores estéticos que um dandy jamais poderia renegar, pois este considera os cuidados corporais um dos rituais mais sérios. Neste aspecto, Ho Hang é emblemático, pois a respectiva mensagem sublinha que "pretende ser o perfume da harmonia, o do equilíbrio masculino feminino. Repousante após o esforço, estimulante durante o dia, Ho Hang é uma água de toilette de raça, aliada fiel do homem moderno que, prezando a elegância discreta e requintada, quer deixar à sua passagem um ambiente de frescura e de leveza".

22) Pour un homme (Caron)


Um símbolo de luxo e de audácia

Entre os numerosos nomes célebres da marca Caron, Pour un homme é um dos mais importantes. lançado em 1934, esta água de toilette com perfume e alfazema, tao deliciosamente abaunilhadas, na época pareceu bastante audaciosa por se destinar precisamente "para um homem". No início do século XIX, quando se deu início à ascensao da perfumeria francesa, apenas se considerava no campo das fragrâncias masculinas os aromas puros, simples e tônicos, dominados pelo musgo, pelo cedro ou pelo feto, quando nao se tratava simplesmente de água-de-colônia ou de alfazema bem natural, sem acentos ambarinos, florais ou almiscarados. Ora, Pour un homme constituiu um verdadeiro golpe de teatro: primeiro perfume para homem de antes da guerra, ousou aventurar-se por uma via olfativa que até entao estava reservada à mulher. Que se poderá imaginar de mais voluptuoso, de mais onírico, de mais suavemente exótico, enfim, de mais feminino do que a baunilha? Esse aroma que se assinala de imediato, como por exemplo, no celebre Habanita de Molinard. Sem qualquer alteraçao desde a data em que foi criado, Pour un homme ultrapassou o desafio de associar as alfazemas mais frescas com um trio avassalador constituído pelo âmbar, pelo almíscar e pela baunilha. Num livro dedicado à Caron, Maurice Rheims refere, no prefácio, que Pour homme continua a ser antes de mais um "perfume contemporâneo pelo seu aroma, poder-se-á dizer, e pela forma do frasco", quadrado, arredondado nas arestas, equilibrado, à imagem, aliás, do mobiliário da década de 30 do século transacto, símbolo de luxo e de audácia, de depuraçao e de requinte.




21) Arpège (Lanvin)



A ELEGÂNCIA DE UMA MELODIA PERFEITA

A mais velha de onze irmaos, Jeanne Lanvin, a quem Louise de Vilmorin chamaria "a encantadora", começou a trabalhar aos onze anos como paquete e depois como costureira e modista. Foi aos 18 anos que começou a trabalhar por conta própria. Em 1895, casou-se com um membro da nobreza italiana. Marguerite, que nasceu dessa uniao (a qual, aliás, duraria apenas 8 anos), desempenharia mais tarde um papel proeminente na alta sociedade parisiense sob o nome de Marie-Blanche de Polignac. Transmitiu principalmente um novo sentido à trajetória de Jeanne Lanvin e à orientaçao de sua criaçao. O amor que nutriu pelas crianças fê-la criar roupa de cores suaves e alegres, acrescentando depois uma linha para crianças. Primeira criadora da sua época a pensar em todas as faixas etárias, com roupa concebida especialmente para cada uma delas, introduziu assim a juvenilidade na moda. O azul Lanvin tornou-se tao célebre como os cortes simples e inovadores, os tecidos fluidos e os coloridos frescos. A partir de 1926, Jeane Lanvin interessou-se também pela moda masculina e fez da sua casa a primeira a dirigir-se a toda a família. Entao, no ano seguinte, numa época em que já era uma grande rainha da moda, a única rival de Coco Chanel, lançou um perfume, o mítico Arpège nascido do desejo de oferecer à filha Margueritem que se tornara uma pianista famosa, um perfume pelos seus 30 anos, "um perfume que dê às mulheres o que a música transmite à vida", segundo as sua próprias palavras. Nesta época, Jeanne Lanvin lançara já uma dezena de perfumes, entre os quais o famoso "My Sin", muito floral, em 1925. Possuía a sua própria fábrica e o seu nariz era o famoso André Fraysse, entao com vinte e cinco anos (criaria mais tarde, em 1933, sempre para Lanvin, o sulfuroso Scandal, que nunca conseguiria destronar Arpège). Raramente um perfume foi mais bem batizado do que este, um floral aldeído, com um bouquet de mais de sessenta componentes, entre as quais a rosa, o sândalo, o almíscar, o jasmim, o lírio-do-vale, o neroli, a bergamota, o vetiver, a íris e a baunilha. A palavra "harpejo" (que vem do italiano arpeggio, "tocae harpa") designa em música um acorde de notas dedilhadas rapidamente: nao se conseguiria descrever melhor esta fragrância poética, elegante e melodiosa, leve como poucas. Armand Rateau, célebre artista da época, que já decorara a residência particular de Jeanne Lanvin, na Rue Barbet-de-Jouy, foi encarregado de criar o frasco, decorado com uma tampa cinzelada: a idéia genial da célebre "bola preta" (que, aliás, originalmente era de um azul profundo, caaro a Jeanne).
O desenho de Paul Iribe, estilizado no espírito Art Déco, representa a mae e a filha em traje de baile, segurando nas maos uma da outra: jamais deixaria de ser a imagem da marca da casa Lanvin.
Desde que foi lançado, Arpège fez a unanimidade. Louise de Vilmorin, para quem era o perfume favorito, descreve-o como "um perfume vivo, milagre da elegância", que "dedilha um bouquet de notas frescas e quentes", "um achado prodigioso, que cheira simultaneamente a flores, a frutos, a peles e a folhas". Colette, no qual lhe diz respeito, acha-o "de um gosto bastante atual". À primeira vista, acrescenta, "tem um ar louro, embora possa parecer que sao as peles morenas que lhe conferem todo o seu poder".

sexta-feira, 5 de junho de 2009

20) Bal à Versailles (Jean Desprez)

O mundo perfeito do luxo extremo...

No mundo da alta perfumeria francesa, Jean Desprez ocupa um lugar à parte, nao só porque se trata de um perfumista no sentido estreito do termo - trabalhou como nariz para outras casas no início do século XX, antes de fundar a sua própria companhia em 1928 (actualmente dirigida pelo filho) -, mas também porque as suas criaçoes se inscrevem deliberadamente no mundo do luxo supremo. Depois de ter criado o capitoso Crêpe de Chine para Millot, lançou sob seu nome, na mesma linha chiprée floral, o mundo clássico Étourdissant, em 1939. Rodeado de artistas famosos, que desenham para os seus perfumes recipientes e frascos sumptuosos, por vezes tao dispendiosos que nao sao comercializados. Jean Desprez é uma daquelas pessoas que consideram o perfume uma verdadeira obra de arte, nada poderá ser suficientemente belo para o conter ou valorizar. Bal à Versailles, perfume ambarin, floral, com toques de especiarias, lançads em 1962, mas que se situa na categoria dos grandes perfumes sedutores e pertubantes da década de 20, constitui a mais perfeita ilustraçao do supracitado. Encontram-se as essências naturais mais nobres na sua composiçao: jasmim de Itália e do Egito, rosas de Bulgária e da Turquia, flor de laranjeira de Marrocos, cássia de Provença, sândalo e vetiver de Java, gomas e resinas do Oriente, âmbar dos mares austrais. É toda uma panóplia do perfumista de grande tradiçao que se exprime nesse líquido, cuja notoriedade jamais deixará de estar ligada a uma imagem de grande requinte. Sete anos após a criaçao de Bal de Versailles, Jean Desprez recorreu ao seu amigo escultor Léon Leyritz para que este criasse um frasco de porcelana de Sèvres com uma tampa de ouro e de prata, apresentado num estojo de pele e de veludo dourado com folha de ouro.

sábado, 2 de maio de 2009

19) Habanita (Molinard)

UM PERFUME EMBRIAGANTE

Fundada em 1849, em Grasse, a casa Molinard foi sempre uma empresa familiar até os nossos dias. Depois de ter fabricado água de flores e águas-de-colônia, que vendia na pequena loja no centro da cidade, começoou a desenvolver-se. Quatro bonitos perfumes uniflorais apareceram entao em elegantes frascos de Baccarat: Jasmim e Rose e, mais tarde, Mimosa e Violette. Em 1900, Gustave Eiffel concebeu o esqueleto da fábrica que foi construída na entrada da cidade, enquanto os ricos clientes russos e ingleses íam escolher os perfumes florais num soberbo salao de recepçao, mobiliado à moda antiga. O ano de 1921 marcou o início da expansao da casa, que nao deixaria de crescer, com a criaçao do famosíssimo Habanita, quente e abaunilhado, um perfume típico dos Anos Loucos, que alcançoou um êxito inigualável. Incitando os mais célebres mestres vidreiros a criarem frascos exclusivos para os perfumes da casa, Molinard esteve na origem das mais belas peças assinadas por Lalique. Fornecedor, no seu tempo, da rainha Vitória da Inglaterra, Molinard continua a vender na sua loja parisiense da Rue Royale águas-de-colônia "envelhecidas na cave" e os encantadores concretas, perfumes sólidos apresentados em pequenos cofres pretos pintados à mao. Todavia, os verdadeiros apaixonados por Habanita fazem a viagem até Grasse para irem a comprar sua fragrância envolvente no próprio local em que é concebida,a partir do patchuli de Penang e do sàndalo da Índia, da baunilha do Taiti e do âmbar-cinzento, do musgo do carvalho e do cisto do Tibet, um bouquet exótico, persistente e forte, adocicado pelas notas florais do jasmim e da rosa.



Originalmente, Habanita fora concebido para perfumar os cigarros das mulheres "arrapazadas" com um aroma penetrante e delicioso.











Foto improvisada das minhas "concretas", conseguidas num leilao depois de muito buscar.(Arquivo pessoal)

18)Tocade (Rochas)

UM IRRESISTÍVEL AMOR À PRIMEIRA VISTA

O ano de 1994 viu florir um grande número de perfumes, aos quais, aparentemente, estava prometido um futuro brilhante, sendo a colheita das fragrâncias particularmente diversificada. Para citar apenas os mais célebres, a amostragem vai de Eden de Cacharel, oriental, floral, e aquático, a Deci Delà de Nina Ricci, um arabesci chypré, frutal e floral, sem esquecermos o deliciosos Petit Guerlain, fresco e perfumado como o orvalho matinal. Prova de que as grandes marcas sabem renovar-se nas diversidade. Com Tocade, lançado pela Rochas nesse ano, entramos na era dos perfumes "lúdicos". Em primeiro lugar, evidentemente, o cheiro era perfeitamente conseguido: uma pequena maravilha floral e ambarina, em que a rosa desabrocha sem quaisquer pressas, escoltada pela magnólia, plea bergamota e pelo gerânio, com um toque de baunilha numa esteria cálida de benjoim, de cedro, de âmbar e de almíscar.
Porém, além disso, o designer Serge Mansau inspirou-se nos mestres vidreiros de Veneza para inventar frascos que pudessem ser completados por diferentes tampas, ao sabor do estado de espírito e das cores: gargalo vermelho e tampa amarela, gargalo azul e tampa vermelha, gargalo vermelho e tampa verde. Originalidade de conceito, a que acrescenta outra idéia moderna: os frascos sao recargáveis (consequentemente menos dispendiosos) e, sob a forma de vaporizadores, passam facilmente do banheiro para a mala de mao e vice-versa. Tocade ou uma idéia forte e original, "o apetite pela vida", dirige-se à mulheres espontâneas e maliciosas, que vivem as suas paixoes, os seus amores à primeira vista, loucura..
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(Exposiçao na Bélgica de propostas de packaging, neste caso, de Tocade.)

Um frasco puro e elegante, de formas arredondadas e generosas, coroado por um diadema atrevido de cores vivas e transparentes.



Rosa, baunilha e âmbar, é este o acorde inédito de Tocade.



quinta-feira, 23 de abril de 2009

17) Boucheron

A MAGIA DE UM ANEL

Foi em 1988 que Alain Boucheron, filho, neto e bisneto de joalheiros, decidiu lançar um perfume que batizou com o nome da famosa casa da Place Vendôme. Desde que foi lançado, impôs-se logo como um êxito de vendas. Boucheron é um perfume luminoso e voluptuoso, floral e semi-oriental. A nota de cabeça possui o brilho dos frutos do sol: tangerina, bergamota, flor de laranjeira, com um toque de manjericao. No coraçao da fragrância, um bouquet de flores arrebatadoras: ilangue-ilangue, jasmim, tuberosa...
A esteira é ambarina e com aroma de madeiras: sândalo, patchuli, baunilha. O primeiro perfume-jóia de Boucheron nao podia ser senao um anel, a jóia por excelência, símbolo do amor desde a noite dos tempos. As mulheres descobrem-no com supresa e maravilhamento. O frasco foi desenhado nas oficinas de joalheria na Place Vendôme em Paris. A sua surpreendente concepçao segue de muito perto a dos anéis contemporâneos da casa: um aro que evoca o cristal de rocha, com ornatos que formam linhas paralelas trabalhadas em relev
o no material, e uma tampa-cabuchao azul da Birmânia, o azul intenso das mais belas safiras do mundo. Coloca-se sobre o toucador como um anel e aconchega-se na palma da mao. Está discretamente assinado no interior, tal como uma jóia.
Desde entao, em todas as criaçoes de perfumes de Boucheron, reencontramos a personalidade da marca e respectivos sinais de reconheciemento: o ouro, o cristal de rocha, o mesmo tipo de ornatos, o cabuchao de safira, o azul, cor fetiche da casa. Assim, todos os perfumes Boucheron, para senhora ou para homem, sao identificados logo no primeiro olhar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

16) Fracas (Robert Piguet)


O RENASCER DE UMA LENDA

Raros sao os perfumes que ousam explorar a fragrância obsessiva da
tuberosa, da qual Émilie Zola dizia que tinha "um aroma quase humano". Terminada a guerra, o costureiro Robert Piguet pediu a Germaine Cellier, um dos raros narizes femininos da profissao (à qual se deve igualmente o célebre Vent Vert de Balmain), que lhe criasse uma essência exclusivamente de tuberosa, uma flor siave e penetrante, levemente alaranjada, que até entao apenas entrava nas composiçoes em quantidades ínfimas, de tal modo o seu odor é violento e penetrante.
"Em Paris durmo sob a sua guarda. De uma única haste florida nasce e se espraia uma nuvem de sonhos, um repouso sem perigos", escrevia Colette, para celebrar o nascimento de Fracas, esse imenso perfume "branco" surgido em 1948. Poucas pessoas se lembram de Robert Piguet e da sua moda, mas, no entanto, foi ele quem lançou o "vestido preto" que todas as mulheres têm no guarda-roupa. Subsiste dele a imagem de um costureiro "bastante protestante de aspecto, mas de humor mordaz", segundo Hélène Rochas, que basea toda sua coleçao outono-inverno de 1944 no tema do bandido. As suas modelos desfilaram com máscaras no rosto, armadas de punhais e de revólveres, aureoladas com os eflúvios sensuais do seu primeiro perfume, Bandit! Esta mistura estonteante de jasmim e de cravo fez imediatamente furor. Quantro anos mais tarde, novo alvoroço com Fracas, um perfume que se tornou mítico por várias razoes. Nao que tivesse sido um grande êxito comercial, mas a lenda que deu origem foi tao forte, que inspiraria criaçoes como Chloé de Karl Lagerfeld ou Poison de Christian Dior, Fragile de Jean-Paul Gaultier e, principalmente, Tubéreuse Criminelle, concebido por Serge Lutens por Shiseido.

Conta a lenda que Robert Piguet, que dedicou o perfume a Edwige Feuillère, apenas cheirava os perfumes no sexo dos manequins, pois achava que era nessa parte do corpo que as mulheres melhor exalavam feminilidade a sensualidade... Quanto ao rasto magnético da tuberosa tal como se exprime em Fracas, desapareceu do solo francês em 1953, com a morte de Robert Piguet, ao mesmo tempo que a casa so costureiro. Fracas e Bandit passaram entao para as maos de distribuidores canadenses e norte-americanos, que tentaram um regresso desastroso a Paris, em 1989, voltando depois para a costa leste dos Estados Unidos, onde recobraram um segundo fôlego, Fracas foi anunciado na imprensa como the greatest French Parfum ("o maior perfume francês"). Entao, as americanas ressuscitaram o mito. A partir de entao, encontram-se em várias lojas nova-iorquinas. Escreveu Catherine Jazdzewski, na Vogue, onde estudou de perto o "caso Fracas": "Assim que franqueamos a porta de Neiman Marcus ou de Saks sentimo-nos mal, com a cabeça à roda, o coraçao que bate, as pernas que fraquejam. Ficamos drogadas pelo odor capitoso de uma tuberosa."
Outrora abundante na Côte d'Azur, a tuberosa foi desaparecendo em virtude da especulaçao imobiliária e apenas se encontra na Índia. É por intermédio da antiga e dispendiosa técnica de enfleurage que se extrai das pétalas esse odor único de néctar venenodo, absolutamente envolvente.


quarta-feira, 15 de abril de 2009

15) Rochas Man (Rochas)

UMA HISTÓRIA DE HOMEM


Em 1949, teve início uma história de homem para casa Rochas. Marcel Rochas imaginou um perfume masculino insólito, forte, e "picante", chamado Moustache. Durante duas décadas, figuraria à cabeça da perfumeria masculina mundial. Outros teniam adormecido sobre este passado glorioso, mas Rochas estava decidido a retomar o único caminho que o conduzia além do inimaginável...
Sucedendo a Monsieur, a Macassar, a Globe e a Eau de Rochas, Rochas Man fez a sua entradano dealbar do novo milênio...
A partir de entao, foi um homem livre que viu a luz do dia. O homem Rochas escolheu definir os seus próprios valores e é com uma gravidade divertida que contempla os sobressaltos do mundo, contando apenas consigo próprio para avançar e evoluir. A vida ensinou-lhe que os opostos acabm sempre por se atrair e que a virilidade, levada ao seu paroxismo, poderá alcançar uma feminilidade das mais sutis. Intemporal e vanguardista, Rochas Man escolheu dizer sim ao que encerra em si e enlaçar todas as facetas que fazem da vida de um homem uma eterna evoluçao.
Primeira olhadela, primeira surpresa: o frasco de Rochas Man desfere um golpe no espaço como uma adaga moderna, simultaneamente fora do tempo e rigorosamente atual! uma obra de arte contemporânea que tivesse atravessado três milênios... Matéria tácteis- vidro baço e aço escovado- encontram-se num diálogo harmonioso e fulgurante. Com esse seu ambarino fresco, Rochas Man celebra as núpcias do fogo e do gelo. Um perfume fulminante pela audácia da sua construçao, que congrega, de forma magistral, duas fragrâncias constratantes, a alfazema e um moca profundo de aroma forte e odorífero, um acorde inédito.
Inesperado, independente, insubmisso, senhor da sua energia e das próprias escolhas, Rochas Man anuncia o despontar de uma nova era em que o homem é mais do que nunca o herói da sua própria história.

14) Gardénia (Chanel)


O GRANDE PRINCÍPIO DA INOVAÇAO

As grandes flores odoríficas da gardênia, muitas vezes brancas ( e que devem o nome a um botânico escocês de patronímico predestinado, pois que se chamava Garden), nao costumam ser utilizadas tao frequentemente na perfumeria como a rosa, o jasmim, o lñirio-do-vale ou a tuberosa. Mesmo assim, em 1925 e do indispensável Cuir de Russie de 1924, Mademoiselle impôs um magistral unifloral, tanto mais surpreendente quanto, na época, estavam mais na moda os perfumes ambarinos, com aroma a especiarias, quentes e por assim dizer exóticos e coloridos. Depois de ter iniciado a era enfeitiçadora dos perfumes de alta-costura, impôs, com Gardénia, um perfume floral, terno e sedutor, em que se encontram, em torno da predominante gardénia, toques de coco, de violeta e de baunilha, toques estes conferidos pelas fragrâncias de síntese, que transmitiram alma e modernidade a todos os perfumes criados desde o início do século XX. Coco Chanel atravessou este século com classe, com golpes de tesoura e de idéias inovadoras. A sua definiçao de elegância é muito simples: "a liberdade de nos movermos". "Era jovem e tinha a audácia de o parecer", lê-se precisamente em Les Mémoires de Coco,de Louis de Vilmorin. Todavia, a elegância é também pontuar justamente um porte com os pormenores que fazem a diferença: jóias falsas e perfumes verdadeiros. Tal como Gardénia, que, mesmo menos conhecido do que os célebres Chanel Nº5 e Nº19 (o último perfume lançado no tempo de Gabrielle Chanel), ocupa, nesta mesma veia floral, um lugar de escolha na fabulosa herança dos perfumes Chanel.

domingo, 12 de abril de 2009

13) Acqua di Giò (Giorgio Armani)




Número um do prêt-à-porter de luxo em Itália, um país onde o ritmo de lançamento de perfumes é o mais elevado da Europa, o costureiro Giorgio Armani domina de longe esta paisagem que, por vezes, parece um pouco saturada. Depois de ter inicialmente trabalhado com Nino Cerruti, "Gorgeous George", como a revista americana chamou, revolucionou a moda masculina antes de se dedicar à criaçao feminina, tornando-se um símbolo de elegante descontraçao e de segurança de gosto. Os perfumes que lançou, para homem e senhora, inscreveram-se imediatamente no pelotao de vanguarda das fragrâncias famosas.
Giorgio Armani declara gostar da "moda que nao se vê" e de "um estilo de perfumes fluidos e sóbrios, elegantes e modernos". Tendo escrito com a própria mao as três letras do ser diminutivo- Giò -, o costureiro criou primeiramente, em 1992, um floral frutado, para o qual desenhou igualmente o frasco, simplicíssimo. Com Acqua di Giò, a inspiraçao ajusta-se ainda mais ao sono de evasao do qual impoe os contornos: refere ter descoberto a alma do perfume em Pantelleria, uma ilha siciliana entre o céu e a água. "O Sol aquece-a, o mar esculpe-a, é doce e amarga, recamada de açucar e de sal." A abrir, ervilhas-de-cheiro aciduladas respiram as neblinas marinhas. No coraçao, o jasmim rivaliza em frescura coma frésia e o jacinto branco. No final, um acorde de madeira almiscarada exala a sensualidade do perfume. Por fim, para concretizar essa idéia de frescura, símbolo de uma epoca que adora a pureza e a vastidao do mar, Armani encerra o perfume num frasco entre o jade e o verde-claro e confere ao estojo uma cor marinha.





Giorgio Armani gosta dos perfumes fluidos, modernos e sóbrios, despidos de artifícos, que exprimam as emoçoes em tamanho real.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

12) Tubéreuse criminelle (Shiseido)


A atividade de Serge Lutens, criador das coleçoes da casa japonesa Shiseido, é de uma singularidade notável. Criador de jóias e de maquiagens, assina perfumes que define preferentemente como emoçoes olfativas, que possuem uma força, um caráter e sobretudo os traços de uma personalidade. No quadro luxuoso dos saloes do Palais Royal, encontram-se assim "águas amadeiradas" e "água antigas", assim como duas outras séries, as Somptueux e as Fleurs nobels, entre as quais a sublime Tubéreuse criminelle. Serge Lutens precisa: "a carne leitosa, espessa, cremosa destas flores me faz lembrar as mulheres pálidas amadas, descritas por Charles Baudelaire. Magoadas com um toque, estas pesadas pétalas ficam marcadas com uma imperceptível tonalidade oscilante de malva agonizante a sépia desfalecido, tal como a das olheiras que se esboçam. Profano e sagrado, o seu pujante perfume envolve mais do que se cheira. Mal a noite cai, a tuberosa exala a sua armadilha capitosa, que, mal se percebe, logo se fecha."
Para sublimar esta fragrância sem a trair, o criador recompôs o perfume da tuberosa (à esquerda)- "o aroma violento que brota da inflorescência em cachos desta flor de mel, frutada de paixao e de rosa"- tal como o aspiramos numa noite de verao. Afirma-se,prossegue, pelo "terno coraçao da flor de laranjeira, das pétalas de jasmim e das da tuberosa numa quantidade insensata, assim como do almíscar que tudo torna maravilhoso; pouco de baunilha, aqui se arredonda: do Oriente pelo styrax, que se vê penetrado de noz-moscada e de cravo-da-índia ; depois dos verdes do jacinto que o evocam na frescura noturna."







Serge Lutens concebe a perfumeria como uma das belas-artes:uma alquimia poética e artística.