quinta-feira, 9 de julho de 2009

25) Ysatis (Givenchy)


O GRANDE PERFUME DA NOITE

Um porte inegavelmente aristocrático, eis a marca, mais perfeccionista que revolucionária, deixada por Hubert de Givenchy num mundo en que ele entendeu constituir-se o guardiao de um certo classicismo. "É bastante raro nao associar o perfume à alta-costura", dizia o criador, acrescentando depois que "Ysatis é uma mulher voluptuosa, com encanto, uma silhueta vestida de preto estrito, iluminada por jóias sumptuosas. Mas é também a discriçao e o porte que fazem com que a elegância nem sempre esteja associada ao luxo, mas que se revele por intermédio da personalidade, da forma de evoluir e de se comportar". A nota deste perfume foi trabalhada de uma maneira particular: a cabeça, o coraçao e o fundo estao intimamente ligados para jogarem juntos sobre o mesmo acorde floral, oriental, levemente animalizado. A novidade situa-se no acento exótico conferido pela essência de "bay-rum" de ressonâncias simultanemente frutadas e especiarias. Como Hubert Givenchy nao apreciava as fragrâncias estonteantes, Ysatis é uma presença cuja calidez e rastro jamais incomodam. Deixa-se adivinhar sem se impor. "Para Ysatis, parti do conceito de Hubert de Givenchy de uma mulher ao mesmo tempo ativa e sedutora, assumindo com encanto a sua vida profissional, privada, mundana...", diz Pierre Dinan, o desenhador do frasco. É isso que representa o frasco-esculturs de vidro grosso, perto do cristal, cujas mil facetas sao uma piscadela de olho a essa mulher múltipla, enquanto a tampa assimétrica lhe confere uma nora original. "Ysatis foi concebido para surpreender e intrigar pela magia de um rastro que nos faz voltar para trás e dizer: "Como esta mulher cheira bem!...", conclui Hubert de Givenchy.





Ysatis coloca-se de imediato no domínio da sumptuosidade, do mistério e do fascínio.

24) Trussardi (Trussardi)


UMA DECISAO RESOLUTAMENTE MODERNA

Foi o couro que constituiu a primeira atividade de Trussardi, célebre família de luveiros italianos, cuja primeira oficina foi aberta no início do século XX e que rapidamente adquiriu fama internacional. Nicola Trussardi começou por criar malas de mao e de viagem, pequena marroquinaria e cintos, antes de se encontrar noutros domínios de expressao no campo do design contemporâneo. Tendo escolhido a lebre como emblema para assinar todas as suas realizaçoes, lançou-se igualmente no prêt-a-porter e na perfumeria, concebendo ainda interiores de automóveis e de avioes de linha, mobiliário e mesmo guarda-roupa para bailado-
Para o seu perfume feminino, batizado simplesmente com o seu próprio patronímico - como o fazem frequentemente os criadores italianos, a exemplo de Armani e Azarro, de Gucci ou de Missoni -, Nicola Trussardi imaginou um frasco sóbrio e achatado, revestido de um material branco, a imitar pele de lagarto. O medalhao de couro, com a efigie de uma lebre, destaca-se perfeitamente ao centro: a pureza funcional deste frasco resolutamente moderno entra em ruptura flagrante com a tradiçao dos frascos de vidro ou de cristal talhado, sobretudo no que respeita aos perfumes femininos.O estilo de Trussardi é frequentemente é marcado por uma tecnicidade vanguardista.
Para a mulher, que imagina activa, segura de si mesma, sem deixar de ser bastante feminina - estamos em meados da década de 80 - Trussardi idealizou um perfume chypré, floral composto de jasmim e de mimosa de Grasse, de tangerina de Sicília, de laranja de Calábria e de musgo de carvalho da ex-Jugoslávia; o âmbar, o vetiver e o patchulí conferem-lhe a profundidade e a tenacidade, enquanto a tuberosa e as rosas lhe dao asas.
As notas de cabeça partem da riqueza de um bouquet floral, preservado pela frescura profunda do musgo de carvalho, sendo o coraçao deliberadamente chypré, enquanto o fundo amadeirado vem impor uma soberba esteira de sândalo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

23) Ho Hang (Balenciaga)

O PERFUME DA HARMONIA

Vetiver e cedro da Virgínia, bergamota e sândalo, coentro e noz-moscada: a composiçao deste "perfume para homem", lançado em 1971 sob a marca do grande costureiro espanhol, classifica-o sem hesitaçoes na categoria dos amadeirados com especiarias. Esta família típica agrupa essencialmente as notas masculinas, retiradas das essências de madeira exóticas, realçadas de toques hisperídeos e de pormenores mais calorosos, conferidos pelas especiarias. Depois de Brut e de Eau Sauvage, em 1966, o mercado de perfumes para homem tornou-se, em poucos anos, extraordinariamente vivo e diversificado, podendo mesmo uma fragrância servir para alguém se valorizar socialemente. A imagem da virilidade constituía sempre um fator capital (Balafre, Drakkar ou Safari falam de homens musculosos e bronzeados, de esportes violentos e de grandes espaços), mas o mercado evoluiu rapidamente para uma gama mais matizada: um homem era também (nunca deixa de ser) elegância e distinçao, requinte e circunspecçao, o que significa um regresso a valores estéticos que um dandy jamais poderia renegar, pois este considera os cuidados corporais um dos rituais mais sérios. Neste aspecto, Ho Hang é emblemático, pois a respectiva mensagem sublinha que "pretende ser o perfume da harmonia, o do equilíbrio masculino feminino. Repousante após o esforço, estimulante durante o dia, Ho Hang é uma água de toilette de raça, aliada fiel do homem moderno que, prezando a elegância discreta e requintada, quer deixar à sua passagem um ambiente de frescura e de leveza".

22) Pour un homme (Caron)


Um símbolo de luxo e de audácia

Entre os numerosos nomes célebres da marca Caron, Pour un homme é um dos mais importantes. lançado em 1934, esta água de toilette com perfume e alfazema, tao deliciosamente abaunilhadas, na época pareceu bastante audaciosa por se destinar precisamente "para um homem". No início do século XIX, quando se deu início à ascensao da perfumeria francesa, apenas se considerava no campo das fragrâncias masculinas os aromas puros, simples e tônicos, dominados pelo musgo, pelo cedro ou pelo feto, quando nao se tratava simplesmente de água-de-colônia ou de alfazema bem natural, sem acentos ambarinos, florais ou almiscarados. Ora, Pour un homme constituiu um verdadeiro golpe de teatro: primeiro perfume para homem de antes da guerra, ousou aventurar-se por uma via olfativa que até entao estava reservada à mulher. Que se poderá imaginar de mais voluptuoso, de mais onírico, de mais suavemente exótico, enfim, de mais feminino do que a baunilha? Esse aroma que se assinala de imediato, como por exemplo, no celebre Habanita de Molinard. Sem qualquer alteraçao desde a data em que foi criado, Pour un homme ultrapassou o desafio de associar as alfazemas mais frescas com um trio avassalador constituído pelo âmbar, pelo almíscar e pela baunilha. Num livro dedicado à Caron, Maurice Rheims refere, no prefácio, que Pour homme continua a ser antes de mais um "perfume contemporâneo pelo seu aroma, poder-se-á dizer, e pela forma do frasco", quadrado, arredondado nas arestas, equilibrado, à imagem, aliás, do mobiliário da década de 30 do século transacto, símbolo de luxo e de audácia, de depuraçao e de requinte.




21) Arpège (Lanvin)



A ELEGÂNCIA DE UMA MELODIA PERFEITA

A mais velha de onze irmaos, Jeanne Lanvin, a quem Louise de Vilmorin chamaria "a encantadora", começou a trabalhar aos onze anos como paquete e depois como costureira e modista. Foi aos 18 anos que começou a trabalhar por conta própria. Em 1895, casou-se com um membro da nobreza italiana. Marguerite, que nasceu dessa uniao (a qual, aliás, duraria apenas 8 anos), desempenharia mais tarde um papel proeminente na alta sociedade parisiense sob o nome de Marie-Blanche de Polignac. Transmitiu principalmente um novo sentido à trajetória de Jeanne Lanvin e à orientaçao de sua criaçao. O amor que nutriu pelas crianças fê-la criar roupa de cores suaves e alegres, acrescentando depois uma linha para crianças. Primeira criadora da sua época a pensar em todas as faixas etárias, com roupa concebida especialmente para cada uma delas, introduziu assim a juvenilidade na moda. O azul Lanvin tornou-se tao célebre como os cortes simples e inovadores, os tecidos fluidos e os coloridos frescos. A partir de 1926, Jeane Lanvin interessou-se também pela moda masculina e fez da sua casa a primeira a dirigir-se a toda a família. Entao, no ano seguinte, numa época em que já era uma grande rainha da moda, a única rival de Coco Chanel, lançou um perfume, o mítico Arpège nascido do desejo de oferecer à filha Margueritem que se tornara uma pianista famosa, um perfume pelos seus 30 anos, "um perfume que dê às mulheres o que a música transmite à vida", segundo as sua próprias palavras. Nesta época, Jeanne Lanvin lançara já uma dezena de perfumes, entre os quais o famoso "My Sin", muito floral, em 1925. Possuía a sua própria fábrica e o seu nariz era o famoso André Fraysse, entao com vinte e cinco anos (criaria mais tarde, em 1933, sempre para Lanvin, o sulfuroso Scandal, que nunca conseguiria destronar Arpège). Raramente um perfume foi mais bem batizado do que este, um floral aldeído, com um bouquet de mais de sessenta componentes, entre as quais a rosa, o sândalo, o almíscar, o jasmim, o lírio-do-vale, o neroli, a bergamota, o vetiver, a íris e a baunilha. A palavra "harpejo" (que vem do italiano arpeggio, "tocae harpa") designa em música um acorde de notas dedilhadas rapidamente: nao se conseguiria descrever melhor esta fragrância poética, elegante e melodiosa, leve como poucas. Armand Rateau, célebre artista da época, que já decorara a residência particular de Jeanne Lanvin, na Rue Barbet-de-Jouy, foi encarregado de criar o frasco, decorado com uma tampa cinzelada: a idéia genial da célebre "bola preta" (que, aliás, originalmente era de um azul profundo, caaro a Jeanne).
O desenho de Paul Iribe, estilizado no espírito Art Déco, representa a mae e a filha em traje de baile, segurando nas maos uma da outra: jamais deixaria de ser a imagem da marca da casa Lanvin.
Desde que foi lançado, Arpège fez a unanimidade. Louise de Vilmorin, para quem era o perfume favorito, descreve-o como "um perfume vivo, milagre da elegância", que "dedilha um bouquet de notas frescas e quentes", "um achado prodigioso, que cheira simultaneamente a flores, a frutos, a peles e a folhas". Colette, no qual lhe diz respeito, acha-o "de um gosto bastante atual". À primeira vista, acrescenta, "tem um ar louro, embora possa parecer que sao as peles morenas que lhe conferem todo o seu poder".