segunda-feira, 3 de agosto de 2009

33) L'eau par Kenzo (Kenzo)


DE UMA SIMPLICIDADE ABSOLUTA

O primeiro japonês a instalar-se em Paris, Kenzo conquistou rapidamente a cidade, no início da década de 70 do século transacto, com as suas cores alegres, o seu folclore e as suas misturas de estilos e de motivos. Embora passe pelo mais europeu dos japoneses que lhe seguiram o exemplo, nao será por isso que abandonou as suas raízes. Se nao demorou muito a assinar perfumes, embaixadores do seu estilo com a missao de o tornarem ainda mais conhecido, fê-lo também como uma maneira de indeireta de nao se desligar do seu país natal. Depois de King Kong e Jungle, para os quais Serge Mansau criou frascos que mais pareciam pedras,folhas ou bambus, vimos surgir, em 1996, uma novidade que marcou o seu tempo, L'eau par Kenzo, que resume todo o seu universo. "O mundo é belo", é essa a sua divisa. Para exprimir a beleza e a sinceridade, a felicidade e a verdade, a ternura e a liberdade, nada lhe pareceu mais simbólico do que a água, a mae da Natureza, primeiro tesouro do planeta, soberana benfazeja, vitalidade imaterial. Kenzo imaginou uma "água" nova. Enquanto as águas tradicionais possuíam todas uma dominante hesperídea, L'eau par Kenzo inscreve-se num novo universo, floral-aquático. "A tudo o que é clássico junto o inesperado", diz Kenzo. Na verdade, os vinte e um componentes desta Eau constituem uma harmonia simples e complexa, que cria um tom novo. Em notas de cabeça, a cintilaçao vibrante da madeira de cana, do verde do lilás, da hortela orvalhada e da tangerina. Como notas de coraçao, uma cascata florida: graos-do-paraíso, jasmim-do-rio, nenúfar, amarílis e pêssego branco. Como notas de fundo, um "lago misterioso" onde persistem o cedro azul, o almíscar e a baunilha. Por fim, como "a água nao tem cor", Kenzo quis para a sua água límpida o brilho transparente de uma gota de vidro de uma simplicidade absoluta, mudada posteriormente a forma dos frascos femenino e masculino a dois movimentos da água complementando entre si quando colocados juntos.

32)Joy (Jean Patou)

UMA ACTUALIDADE MAIS QUE PERFEITA

" O perfume mais caro do mundo, propaganda sem réplica, da autoria de Elsa Maxwell, a mexeriqueira de Hollywood ", que acompanhou Jean Patou a Grasse em busca de uma nova fragrância. Estávamos em 1930. O colapso da Bolsa de Nova Iorque lançara na miséria famílias inteiras e arruinara numerosos clientes americanos, habituados aos saloes dos costureiros-perfumistas parisienses. Com efeito, seria para responder a estas tragédias que Jean Patou decidiu umaginar um antídoto perfumado para a depressao geral.
Em Grasse, ficou preso aos encantos de um líquido fabuloso,composto pelas mais preciosas essências de rosa e de jasmim. O respectivo preço de revenda era absolutamente exorbitante, mas seria justamente este argumento justificado que o levou a tomar a decisao. Para tornar o perfume mais sumptuoso ainda, Jean Patou pediu a Henri Alméras, o criador, que duplicasse a concentraçao da fragrância. Símbolo do luxo e do requinte, Joy (batizado, segundo se diz, com o nome de uma rica cliente de Patou), originalmente, foi colocado num frasco de um classicismo perfeito, com uma tampa bem larga e cantos biselados. Dois anos mais tarde, em 1932, num frasco preto com tampa vermelha, inspirados nas caixas para tabaco chinesas, de forma arredondada, até que, em 1975 - o líquido continuava a ser uma atualidade mais que perfeita - Baccarat concebeu um frasco de cristal como um vestido de crinolina. O capitoso bouquet que encerra era de uma grande audácia para a época, pois as duas grandes flores da perfumaria eterna encontravam-se reunidas, quando, normalmente, costumavam ser valorizadas separadamente.




Para Joy, Jean Patou mandou realizar este frasco precioso num cristal Baccarat de uma rara pureza (continua à venda).

domingo, 2 de agosto de 2009

31) Soir de Paris (Bourjois)




UM PASSAPORTE PARA A CELEBRIDADE


Entre todos os perfumes que, em virtude do seu nome, prestam homenagem à capital francesa, Soir de Paris é, sem sombra de dúvida, o mais original e aquele cuja história é a mais extraordinária e que conheceu o êxito mais evidente. Foi graças aos produtos de maquiagem para atores que Alexandre Napoléon Bourjois fundou, em 1863, a casa que, hoje em dia, continua a usar o mesmo nome e que construiu, subsequentemente, uma fama internacional baseada na sua gama de pós compactos e de maquiagem pastel. Ora, por volta de 1925, Bourjois, que abrira uma sucursal em Nova Iorque, acalentava a esperança de conquistar o continente americano. Verificando que a concorrência era forte no campo da maquiagem, a casa decidiu-se por outra tática: mudar de especialidade. Conhecida pelos seus pós e maquiagens, decidiu lançar um perfume, dado que, neste domínio, a produçao americana era por assim dizer inexistente. Foi assim tomada a decisao de proporcionar às americanas um perfume tipicamente francês, com um nome poético, evocador da festa, um perfume que as fizesse sonhar: seria pois Evening in Paris (o perfume apenas adotaria o nome francês, Soir de Paris, quando foi lançado na França).
O perfume foi lançado em 1929 e o êxito mundial foi imediato. Será preciso referir que os melhores artistas da época rodearam dos maiores cuidadoso nascimento de Soir de Paris. O criador do líquido foi Ernest Beaux, o celebérrimo pai do Nº5 de Chanel. Simultaneamente floral e condimentado, Soir de Paris introduziu de imediato Bourjois no círculo restrito dos grandes perfumistas. É um bouquet de cravo, de jasmim, de lírio e de rosa de Maio, apoiado por alguns toques de vetiver e por uma nota de sândalo: a aliança inesperada do cravo, com um perfume quente e provocador, com a madeira preciosa de sândalo constituiu um verdadeiro achado. Para realçar esta harmonia sutil de aromas, Bourjois mandou fabricar uma pequena jóia pelos vidreiros Brosse: frasco Art Déco de um azul-cobalto verdadeiramente suntuoso e revolucionário, pois a cor azul era entao inédita na perfumaria. Pelo seu lado, o ilustrador Jean Helleu desenhou uma etiqueta plena de poesia, semeada de estrelas e com uma lua em quarto crescente, um convite ao divertimento numa noite tremeluzente de luzes. Primeiro perfume que se dirigiu mais diretamente às classes médias, numa vontade de tornar acessível a todas as mulheres a qualidade de um grande perfume. Soir de Paris conheceu o triunfo ao beneficiar de meios de lançamento consideráveis para a época. Um frasco azul, uma etiqueta prateada, um nome com uma sonoridade única: a partir desta lenda, Bourjois quis reinterpretar Soir de Paris à luz da década de 90 do século passado. Seria François Demachy quem reinventaria o espírito: se bem que as bases de construçao tenham permanecido fiéis às de 1929, Soir de Paris 1991 encontrou um novo equilíbrio nas suas notas floridas, pontuadas por notas frutadas e amadeiradas sobre um fundo abaunilhado, para lhe conferir o caráter resinoso dos perfumes intemporais.

30) Loulou (Cacharel)
















DE CANDURA E DE MISTÉRIO

Depois do golpe de gênio de Anaïs Anaïs , em 1978, pretender reiterar um segundo golpe de gênio poderia parecer loucura. Ora, verificou-se que Loulou, laçado em 1978, venceu o desafio de se impôr entre os florais orientais, mais sensuais, mais misteriosos. O seu bilhete de identidade fez aparecer, além do jasmim e da flor de laranjeira, o heliotrópio, a fava-tonca e o almíscar, essa essência envolvente que tem o nome de ilangue-ilangue, assim como os aromas exóticos, suaves e acariciadores, da baunilha e a flor de tiaré. O langue-ilangue, flor amarela-clara, de pétalas compridas e finas, hoje em dia encontra-se praticamente por todo o lado, cúmplice permanente dos perfumes florais ou ambarinos.
Em Loulou, confere-lhe um estremecimento mais sensual. A baunilha, aroma "paradisíaco" dos sonhos baudelairianos, confere igualmente uma calidez profunda ao perfume, uma abertura suave que percebemos sem hesitar.

Sarah Moon, fitógrafa inglesa encarregada das campanhas publicitárias da Cacharel, irá, no que se refere a Loulou, além da ternura evanescente de Anaïs Anaïs ao escolher uma silhueta aureolada de tons azulados de mulher mais audaciosa, mais elegantemente palpitante, feita de candura e de mistério, em volta da qual se murmuram confidências. Mais uma vez, a osmose é total entre o perfume e a imagem deste. Nao terá sido por acaso que foi escolhido o nome de Loulou: nao evocará de imediato o perfil lendário, mas tao moderno, da atriz Louise Brooks e a sua personagem simultaneamente voluntariosa e frágil?

29) CK One (Calvin Klein)

A PRIMEIRA FRAGRÂNCIA ANDRÓGINA

Tornado, tal como Ralph Lauren (igualmente originário do Bronx), um dos gigantes do marketing "moda" à escala mundial, Calvin Klien propoe mais uma concepçao global da vida moderna do que um estilo ou uma moda. "O ponto-chave da estética segundo Calvin Klein é a sexualidade. Os anúncios publicitários para a roupa interior, as calças de ganga, os perfumes do estilista transpoem a obsessao do corpo da cultura gay para a consciência heterossexual, contribuindo ao mesmo tempo de maneira considerável para amenizar a mentalidade americana fundamentalmente puritana no fim do milênio", precisa Charlotte Seeling em La Mode au siècle des créateurs. Em finais do século XX, a tendência para o unissexo era evidente. Porém, quando CK One foi lançado, em 1998, tornou-se, no entanto, uma espécie de aposta. Exceptuando o caso particular da água-de-colônia, até entao os perfumes exploravam os cânones exteriores, bem definidos, da feminilidade e da virilidade: entre Moustache e Shalimar a escolha era evidente. Todavia, CK One, primeira fragrância andrógina, viria provocar um verdadeiro maremoto. O minimalismo do condicionamento e a ambiguidade voluntária dos homens/mulheres jovens escolhidos para a campanha publicitária revelaram-se frutuosos. CK One situa-se no grupo de vanguarda dos perfumes mais vendidos no mundo, eleito pelos homens, pelas mulheres, mas sobretudo pelos jovens. Acabando por ser catalogado como um nao-perfume - "uma simples água-de-colônia, salpicada de água do mar, mixta e asseada, com um toque de abacaxi", segundo Maïté Turonnet - CK One suscitou inúmeras imitaçoes e continua a ser o primeiro perfume a afastar-se voluntariamente do conceito de feminilidade.

28) Ma griffe (Carven)


UMA HARMONIA PRECIOSA E CONQUISTADORA

"Tudo aquilo de que gosto é verde", disse Melle. Carven, igualmente grande apreciadora de objetos de arte.

Seria em 1945, num apartamento cujas janelas dao para a rotunda dos Champs-Elysées, que Melle Carven abriu a sua casa de alta-costura, ela que até esse momento jamais trabalhara no mundo da moda. Porém, sentia-se animada por uma ambiçao muito original: vestir a mulheres de pequena estatura, que, tal como ela, nao tivessem mais de 1.55 m. Desenharia igualmente inúmeros vestidos de noiva. No livro que Dominique Paulvé dedicou à Carven, ficamos a saber, por exemplo, que concebeu o de Anémone Giscard d'Estaing inspirando-se na admiraçao que a jovem tinha pela princesa de Clèves e pelo estilo dos vestidos do século XVI. Caracterizado por uma elegante frescura e por uma alegria juvenil, o seu estilo impôs-se rapidamente. Seduziu parisienses tao diferentes como Nicole Courcel, Ludmilla Tcherina, Maria-José Nat ou Véra Clouzot. Todavia, a marca Carven foi também o famoso tecido de riscas verdes-claras e brancas, jovem e dinâmico, que ficará para sempre associado à imagem da casa. O vestido que terá este nome, executado neste tecido luxuoso, sem mangas, com um busto estreito, dotado de uma saia ampla e realçado por nés na cintura, conheceria o triunfo. Mal se instalara, Melle Carvem conheceu um homem de negócios que lhe propôs criar um perfume. Foi sem hesitar que teve a idéia de Ma griffe, que se tornou um dos grandes clássicos da perfumaria parisiense, sempre apreciado desde que foi criado devido ao seu poder de seduçao eternamente jovem. No cenário ainda sinistro da França do pós-guerra, eis que apareciam nas montras das perfumarias deslumbrantes decoraçoes às riscas verdes e brancas, que apresetavam um perfume chipre floral, um desses perfumes dos quais Charles Baudelaire dizia que eram "frescos como a pele das crianças, doces como os violoncelos, verdes como as pradarias..."

Uma fragrância delicada e tônica, inspirada nas flores favoritas de Carven: gardênias, jasmins e rosas.

Embora esta encenaçao tivesse contribuído largamente para o êxito de
Ma griffe, este deveu-se ao fato de a fragrância imaginada por Melle Carven possuir uma verdadeira originalidade. Ela própria definiu a sua criaçao como "um perfume de exterior que se deve esquecer de ser capitoso". Tal significa uma aliança conquistadora e preciosa feita simultaneamente de jasmim e de neroli, de musgo de carvalho, de almíscar e de vetiver. Em Souvenir de parfums, Véronique Blamont conta a este propósito o seguinte episódio: o nome de Ma griffe estava já registrado pelas casas Guerlain e Le Chat, mas tanto uma como outra, após serem consultadas, decidiram que a partir daquele momento a Carven podeeria utilizar este nome. O dinamismo de Melle Carven continuaria a manifestar-se nos mais variados domínios. Nao apenas no da moda, pois, no decurso das suas numerosas viagens tinha o hábito de trazer continuamente novas idéias: tal como o do vestido "sambas", que idealizou no Brasil, feito de um plissado sobreposto que conferia ao vestido um movimento espetacular; tal também como a linha "ânfora", que lhe foi inspirada pela civilizaçao egípcia; ou ainda a paleta de cores brilhantes que marcou a sua coleçao depois de uma viagem pelo México. Todavia, a casa Carven lançou-se igualmente na fabricaçao de malhas, de gravatas, de lenços e de jóias. Sempre com "griffe" reconhecível entre todas as outras, no sentido literal, o pequeno pedaço de tecido costurado às peças, com o nome do criador, mas principalmente um espírito particular de juventude, de arrebatamento e de vivacidade colorida.

sábado, 1 de agosto de 2009

27) GRAND AMOUR (Annick Goutal)

UM PERFUME QUE É COMO UMA CARÍCIA


Após uma carreira de manequim em Inglaterra, Annick Goutal entrou quase que por acaso no reino dos perfumes. Quando ajudava uma amiga a montar um negócio de produtos de beleza, encontrando-se certo dia em Grasse, capital francesa da perfumaria, iniciou-se entao na arte das fragrâncias. Foi nesta cidade que descobriu o dom extraordinário que possuía: o nariz! Soube entao que o seu caminho já estava traçado: iria criar perfumes com o seu próprio nome. Perfumes que, todos, iriam guardar a marca da sua personalidade, mas testemunhar também a qualidade rara que faz as grandes fragrâncias. Uma qualidade perfeitamente definida pelo criador Edmond Roudnitska; com efeito, o que, segundo ele, distingue um grande perfume de outro resume-se a seis características: o caráter, o vigor, o poder difusor, a delicadeza, o volume e a persistência. Estas carcterísticas encontram-se todas nas criaçoes de Annick Goutal.


Lançado em 1996, Grand Amour revelou-se imediantamente um êxito extraordinário. Annick Goutal sabia melhor do que ninguém como evocar a seduçao: "É um perfume como uma carícia, que desperta o desejo de viver. É terno e sensual, com um fundo quase sexual. Eis um perfume da mais sublime alta-costura. Criei-o para que se ajustasse perfeitamente ao meu coraçao e à minha pele." Aliás, quem poderá resistir a semelhante nome, inscrito num frasco de um vermelho escarlate do qual emana um aroma que nos envolve numa aura de seduçao? Um aroma em que se encontram misturados o lírio, o jacinto e o madressilva, o âmbar e a baunilha,a mirra e o almíscar.

Flores, âmbar e almíscar, eis o acordo de base de Grand Amour, que a sua criadora qualifica de "perfume de uma paixao serena".

26) Vent Vert (Balmain)


Mal Pierre Balmain acabara de abrir a sua casa de alta-costura, precisamente no fim da guerra, lançou os primeiros perfumes com uma segurança de gosto e uma audácia notáveis. Em 1947, Vent Vert surgiu como um puro golpe de gênio. Ainda hoje continua a ser universalmente comhecido. Isto porque inaugurou, à semelhança do Chypre de Coty ou ao Nº5 de Chanel noutras direcçoes, uma nova linha olfativa: a dos florais verdes. O mercado dos perfumes era entao dominado, prioritariamente, por aromas florais em que dominavam a rosa, o jasmim e outras flores brancas. Todavia, a audaciosa Germaine Cellier, a quem Balmain confiou o cuidado de criar um perfume verde, propositadamente insensato, inscreve-se às mil maravilhas nesta corrente de liberdade e emancipaçao: raro nariz feminino da profissao, mistura os aromas sem preconceitos e ousa fazer associaçoes inesperadas. Colette disse que Vent Vert, com o seu caráter de "vegetal esmagado na mao", fora concebido para agradar "às mulheres endiabradas de hoje em dia". Com efeito, Germaine Cellier criou um líquido à base de gálbano, uma essência originária do Ira, bastante difícil de manejar por ser bastante adstringente. Produzido por plantas herbáceas das regioes desérticas, o gálbano forma concreçoes bastante odoríferas, com uma nota "animalesca", simultaneamente verde e amadeirada. As notas de cabeça de Vent Vert reúnem pois limao, flor de laranjeira e a folha de violeta, ao passo que o coraçao é deliberadamente verde: a parte do gálbano, Germaine Cellier colocou majericao e gerânio, com um toque de jasmim. Por fim, o fundo reencontra uma certa sensualidade com um rastro de sândalo e de lìrio. Retocado em 1990, para adquirir uma maior tenacidade, Vent Vert é um dos perfumes franceses mais originais.


Relicário para o elixir verde, o frasco com um insolente laço verde no bocal dispoe, hoje em dia, de uma tampa que, simbolicamente, se dobra com o vento; o perfume nada perdeu da sua modernidade.